Para ver mudança, seja o primeiro a mudar
Os miúdos ajudam-nos muito a desafiar-nos, enfrentarmos dificuldades, corrigirmos posturas, reinventarmos a forma de estar e ver o mundo. Mas será que deverão ser eles as nossas bússolas? Os primeiros a orientar e a mudar?
Muitas vezes como adultos, carregamos uma história, uma mochila cheia, de histórias felizes e outras tantas mais difíceis, que não nos assombram conscientemente a cada esquina, mas tão presentes, muito presentes, subtilmente. Na enorme tarefa da parentalidade aparecem vezes sem conta e os pais dão por eles a temer alguns comportamentos dos filhos, a arrepender-se de atitudes que tomam, de não conseguirem alcançar o que pretendem nas regras, nas rotinas, na convivência e na felicidade e bem-estar com os miúdos.
E tantas vezes, são estas vivências latentes, que o corpo não esquece, que perpetuam ciclos negativos nas relações pais e filhos e não só. E aflitos, os pais, as mães sentem-se impotentes e, mesmo sem querer, seja por falta de forças, soluções ou por não gostarem do que estão a ser ou a fazer, dizem: “ Tu fazes-me ser assim...” “Não me faças ser essa mãe...” “Ele grita comigo e por isso eu também grito e acabo por me descontrolar...”
É tempo de parar se dá por si com um destes desabafos ou semelhantes. Os miúdos não são as bússolas, as máquinas de controlo que deverão controlar-se, guiar o comportamento para não acordar os alarmes internos dos pais, que, todos nós temos nas nossas mochilas de vida. Eles existem, agem e são orientados pelos adultos. Se despoletam certos comportamentos nos adultos, e não tenho dúvidas que alguns deles são realmente desafiantes (e têm até reacções por vezes irritantes,sim) é tempo de parar e ser o agente activo na mudança. Esperar que sejam os miúdos a pararem e a terminarem ciclos negativos relacionais é uma enorme responsabilidade muito além da maturidade e papel dos mesmos. É altura do adulto ser o adulto, e sim isso custa muito. E ser adulto não é ser super-pessoa. É parar, aceitar que tem agido de forma errada e que é altura de descobrir o que pode fazer para ser o primeiro a mudar. Aceitar que a ajuda pode ser precisa, seja ela de amigos, outros pais, familiares ou mesmo uma ajuda externa, técnica e objectiva.
Quando descobrimos os nossos próprios alarmes internos, as dores que vêm do passado, da mochila onde carregamos a nossa história e vivências, os gatilhos que disparam em determinadas tarefas da parentalidade, o ciclo pode ser alterado. É de uma responsabilidade enorme e de uma coragem brava dos pais que ousam fazê-lo, pelos miúdos mas também por eles próprios, mas de uma compensação enorme, pelo efeito reparador de poder dar o exemplo e ver os miúdos depois a entrarem no ciclo, mas desta vez num ciclo positivo, proporcionado pelo adulto.
E na verdade todos, mas todos temos estas mochilas que carregam lá dentro as memórias, as vivências, o que a nossa vida foi e tem sido. Por isso não há como não ter estes tais gatilhos que geralmente se reflectem nas partes e tarefas da parentalidade que se tornam mais difíceis para cada pai/mãe. E isso não tem nada que ver com competência ou incompetência, tem que ver com ser pessoa.
Por isso arrisque, se quer que os miúdos mudem algumas atitudes, mude. Ou pelo menos, reflicta e tente mudar o que sente não estar bem na forma como comunica com os seus filhos e eles consigo. Não espere que seja ele. Peça ajuda, pense em que é, o que pode estar a influenciá-lo nas tarefas parentais que são mais difíceis para si ou na forma como se relaciona com o seu filho, onde choca com ele, encontre estratégias, aceite. E sim, assim existirão realmente mudanças.
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